Intruso



Ainda me sinto um intruso falando sobre literatura. Como se tivesse roubado o lugar de alguém que poderia estar ali onde estou e falar as coisas que falo e falar muito melhor e dar mais importância a tudo isso que é importante. Certas palavras nunca direi pela razão de não saber o tom certo e que cara fazer para dizê-las. Fico pensando nisso e nas coisas que queria dizer e não disse. Sou esquecido mesmo. Mas não me engano, sinto um delicioso alívio sendo esse ladrão ou personagem. E também fico rindo de tudo que falo, de tudo que escrevo. E também digo que sou uma farsa com terno velho, pasta de couro e bigode. O que vendo são títulos de dívida da Petrobras do ano de 1957, de 1.000,00 Cruzeiros.

Certeza disso, que roubei esse lugar de alguém.

E esse sentimento de culpa me persegue. Mas vou em frente de teimoso que sou. Um dia ainda me transformo no personagem ou ladrão.

A foto é no Sesc Petrolina, com a escritora e agitadora cultural Cátia Cardoso ao fundo, conversando sobre literatura com pessoas muito especiais. Toda vez que falo sobre isso acho que devo calar-me e escrever mais escrever mais escrever mais. A certeza é: não será falando, será escrevendo. Mas descobri nesse dia de onde vem minha escrita. E foi falando, não escrevendo. E descobri também a importância disso. Minha escrita vem dos meus pesadelos, das minhas angústias, dos meus medos. Tenho que respeitar isso.


Comentários

Postagens mais visitadas